TRAGÉDIA - Ricardo Mello na época em que estava na TV Record do Rio na cobertura da tragédia por conta da chuva em Teresópolis
Com 36 anos Ricardo Mello é de Ituverava, mas se considera
francano. É jornalista desde os 17, muito tempo antes de se formar. Fez história
pela Unesp Franca, e depois, jornalismo na Universidade de Franca.
Atualmente morando no Rio de Janeiro é editor de texto na
Globo Rio. Já fez coberturas em favelas, tiroteios, esportes e cotidiano. Pensa
em um dia voltar para o interior, mas ainda é cedo para deixar de lado seu
sonho: trabalhar com documentários.
Veja mais o que o jornalista fala sobre carreira, sonhos
e como foi parar na TV.
Conte-nos
sobre sua trajetória no jornalismo.
Comecei
fazendo meu próprio jornalzinho, ao lado de um amigo. Chamava-se Intercâmbio.
Ele logo nos levou a sermos convidados pelo saudoso Anselmo, que era dono do
Anglo, a fazer um jornal com os estudantes da escola. De lá fui para a Revista
Atual, já extinta. Depois não parei mais. Trabalhei em rádio, na assessoria de
imprensa da Prefeitura de Franca, na Fundação Mário de Andrade. Ao mesmo tempo
escrevia para uma outra revista, onde fiquei por quatro anos. Foi nesse período
que fiz minha faculdade de jornalismo, na Unifran. Ao fim da graduação me
tornei gerente de Marketing da Unimed Franca.
Como
foi parar na TV?
Me
infiltrei na festa de lançamento da Nova TV, onde não conhecia praticamente
ninguém. Me apresentei, na cara de pau, para os responsáveis pelo programa Bola
Rolando (na época, apresentado pelo Marcelo Bianconi, hoje comentarista
esportivo da Rede TV). Conversamos um pouco e ele me convidou para ser repórter
do programa. E lá fui eu. Fazia as reportagens, editava em casa mesmo, no meu
computador, levada em DVD para a emissora e lá eu coordenava o programa, que
era ao vivo. Com a saída do Bianconi, assumi, meio de surpresa, a apresentação
do programa. Aí o trabalho se multiplicou. Eu fazia quatro a cinco vts por
semana, editava os gols da rodada, as artes com tabelas de classificação. Dava
um total de 12 a 14 vts por semana, além de apresentar, ao vivo, sem tp, sem
ponto eletrônico, sem nada. Para saber que já podia chamar o vt, alguém
colocava no vidro um papel indicando que podia chamar a matéria, e eu chamava.
Foi um período incrível, de muito aprendizado. Recebemos praticamente dos os
grandes nomes do esporte de Franca nesse período. Do basquete ao Futebol,
passando até pelas corridas hípicas. O programa tinha grande audiência, apesar
de ser na TV a Cabo. Depois de um tempo passamos a fazer as transmissões dos
jogos do Franca Basquete no Pedrocão. Eu fazia reportagem de quadra.
Mas
como foi parar na TV aberta?
Dali
recebi um convite e fui para a Record em Campos, RJ, e de lá vim para a TV TEM,
afiliada Globo que cobre a metade oeste do Estado de SP. Depois ainda passei
pela InterTV (Cabo Frio, RJ) e fui para a EPTV Ribeirão, onde fiquei por dois
anos. Foi o período mais feliz da minha vida. Estava de volta na minha região,
fazendo o que mais gosto no principal veículo de comunicação. Realizei o grande
sonho da minha vida, que era fazer parte do time do programa Terra da Gente, e
fiz reportagens em lugares incríveis. Dali surgiu um novo desafio, ser reporter
de rede da TV Record. Fui para São José do Rio Preto e, apenas seis meses
depois, transferido para o Rio de Janeiro, onde estou até hoje. Há pouco tempo
mudei de casa novamente, e estou na Globo Rio, trabalhando como editor de
texto.
Qual
foi a pauta que mais te deu trabalho?
Não sei
apontar uma que tenha dado mais trabalho, mas sim as que me deram mais prazer.
Tenho muito orgulho de alguns trabalhos que fiz. Reportagens de comportamento,
principalmente. Uma matéria sobre música clássica, que fiz na TV TEM está entre
as minhas preferidas (http://youtu.be/GlF0aRR9Vso).
Tem uma outra reportagem que também me orgulha muito, feita na Globo SP. Íamos
fazer apenas uma nota coberta sobre um desfile de moda no Elevado Minhocão (http://youtu.be/2tpJFXErma0). Mas
voltamos com uma reportagem completa para o Bom Dia SP muito divertida. Mas o
que considero o melhor trabalho da minha vida, além do Terra da Gente, foi a
reportagem que abriu a série de especiais pelos 30 anos da EPTV (http://youtu.be/nYefaDPdzMM). Foi muito
desafiador. Recebemos a encomenda de falar sobre 30 anos, sem foco específico.
Tínhamos que fazer uma reportagem sobre o tempo. As ideias foram surgindo aos
poucos e fomos produzindo e gravando. O trabalho todo durou uma semana, com
direito a toda a estrutura possível cedida pela emissora. Os próprios colegas a
consideraram uma das 3 melhores reportagens da série, que tinha mais de 60 ao
todo. Tenho muito orgulho dela.
Que
tipo de matéria você gosta de fazer?
Gosto
de esporte e comportamento. Já fiz de tudo, mas minha preferência é por estas
editorias. Sou um brincalhão por natureza, e adoro jogar com as palavras. Não
gosto muito de assuntos que deixam as pessoas tristes, já temos motivos demais
pra isso. É claro que o noticiário policial, político e até a cobertura de
tragédias tem uma função importante, informando e ajudando a formar o senso
crítico.
Morando
no Rio atualmente, você cobre tiroteios em favelas? Já cobriu alguma vez?
Muitas
vezes. Já corri de bala traçante pra caramba, com colete à prova de balas e
tudo. Estive em algumas coberturas muito importantes aqui no RJ. Cobri os
ataques dos bandidos e a posterior ocupação policial do Complexo do Alemão.
Estive no meio de vários tiroteios entre polícia e bandidos. Também cobri a
ocupação da Rocinha, para a implantação da UPP, que foi um pouco mais
tranquila. Cobri a visita do Obama ao Rio também, as eleições presidenciais.
Como era repórter do Fala Brasil no Rio, fiz muitas pautas de grande repercussão
nacional. Durante 10 dias cobri a tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio,
várias delas sem dormir, impressionado com as cenas tristes que presenciei. Foi
o cenário mais terrível que já vi na vida. Tenho muita história e estou vivo
pra contar, graças a Deus!
Pensa
em voltar para o interior?
Penso,
logo existo! Mas hoje estou com outro foco. Estou começando a trabalhar com
documentários, até participei de um para a RTP de Portugal, e gostei muito.
Estou com alguns projetos próprios em pleno desenvolvimento nessa área, e
investindo muito nisso. E sabemos que o Rio de Janeiro é o melhor lugar para
quem quer entrar para o mundo do cinema, por isso continuo aqui. Mas o interior
é o que eu sou, né? É a minha essência. Pretendo, sim, voltar a viver no
interior e em SP, de onde sinto muita saudade. Gostaria de criar condições
para, mesmo longe dos grandes centros, continuar fazendo o que amo com o mesmo
nível de qualidade. Este será o dia em que vou comprar minha casinha e voltar.
Qual é
a dica que você dá aos jornalistas que queiram entrar para a reportagem de TV?
Tem que
ter cara de pau e formar sua própria rede de relacionamentos. TV é um ambiente
muito fechado, cheio de indicações e dificuldades. Eu, particularmente, nunca
fui indicado para nenhum dos meus empregos em televisão, mas sei que sou a
exceção da exceção. Tem que correr atrás, ligar, visitar, mostrar trabalhos, e
não ter medo do desafio. TV é completamente diferente de todas as áreas do
jornalismo. Aqui é preciso mais do que apenas tomar conhecimento dos fatos para
levar ao telespectador. Você precisa presenciar o fato, gravar, ter as imagens,
senão não vale. É mais difícil fazer TV, mas é mais prazeroso, também. Além de
falar para muita gente, ela faz rir e faz chorar como nenhum outro veículo de
comunicação é capaz de fazer. Sugiro nunca deixar de assistir ao Jornal
Nacional, porque ele é o resumo de todas as formas de se fazer telejornalismo,
nas diferentes regiões desse Brasilzão. Assista grave, refaça os textos do repórter,
imagine-se fazendo uma passagem diferente. Ali está uma grande escola prática.
Tenho 19 anos de carreira, e passei os primeiros 10 no impresso. Sempre quis
vir para a TV, mas nunca conseguia. Por uma ironia do destino, só deu certo
quando eu já estava desistindo. Não deixo mais o audiovisual. Se amanhã não
estiver mais em uma emissora de TV, vou estar no cinema, fazendo documentários.
Quando esse bichinho pica a gente, não tem mais cura!