17 de abril de 2011

Presépio de seo Tardivo - Vídeo antigo



Este vídeo foi produzido em 2010.

Oficinas estão entulhadas de televisores e eletrônicos

Ana Luiza Silva
repórter do Jornal Comércio da Franca 

Em 1982, Alairton José de Brito, 48, abriu uma oficina para consertar televisores. Vinte e nove anos depois, seu estabelecimento conserta vários outros eletroeletrônicos. Desde som para carro a bebedouro elétrico. A diversificação tem um motivo: sobrevivência. Ocorre que boa parte dos clientes que deixam sua TV para conserto não volta para buscar. A loja de Alairton abriga hoje cerca de 400 TVs de variados tamanhos e modelos que deveriam ter voltado para seus donos há mais de seis meses.

E ele não está sozinho. A reportagem ouviu outros 14 proprietários de oficinas que tentam sobreviver a nova era da tecnologia e à facilidade que o cliente tem de adquirir equipamentos eletrônicos em muitas parcelas. Todos têm televisores à espera dos donos.

Em algumas oficinas, as TVs esquecidas convivem com os fornos e ferros elétricos, videocassetes, aparelhos de som e microondas. A maioria dos comerciantes diz não cobrar nenhum adiantamento do cliente que deixa seus aparelhos para consertar, ou seja, não têm nenhuma garantia de que o cliente vai voltar.

Por conta desses “esquecimentos”, os comerciantes ampliaram o mix de serviços e passaram a oferecer instalação de antenas e de suportes para os novos televisores de LCD, plasma ou LED. Além disso, agora consertam notebooks e máquinas fotográficas digitais e vendem controles remoto, antenas, acessórios para som automotivo e outros produtos.
Cansado de ter sua loja abarrotada de aparelhos à espera do dono, o técnico eletrônico Djalma Fabião Cordeiro, 59, passou a exigir metade do pagamento antes de realizar o conserto. “Nós percebemos que as pessoas às vezes preferem deixar nas oficinas porque sabem que nós não vamos jogar fora. Enquanto suas casas ficam livre, nossas oficinas ficam cheias.”

Na contramão de Cordeiro, o também técnico eletrônico Jamil Batista Faciroli não exige nenhum adiantamento e diz que nunca vendeu aparelhos encostados em sua loja. Sua estratégia para não levar prejuízo é outra: não aceita consertar aparelhos antigos e tenta negociar um preço melhor com clientes que tiveram sua TV arrumada e não foram buscar. Se não der certo, desfaz o conserto, retira as peças que trocou e entrega o aparelho encalhado na casa do dono.

Segundo o advogado Denílson Carvalho, não há lei que obrigue os consumidores a buscar os aparelhos que deixam nas oficinas. Também não há lei que permita a venda dos equipamentos deixados pelos clientes (leia no texto ao lado).
Sem dinheiro, o sapateiro Carlos Aparecido da Silva admite que deixou seu televisor em uma oficina da cidade há cerca de dois anos e ainda não buscou. Ele disse que seu aparelho caiu e a caixa quebrou, mas, como tinha outro equipamento em casa, o que estragou não faz falta.
Mas, o sapateiro diz esperar que em breve possa arrumar um dinheirinho para buscar a TV.

(publicada pelo Jornal Comércio da Franca em 10 de abril de 2011)


Atrás das grades, detentas trabalham em busca de liberdade

Ana Luiza Silva
repórter do Jornal Comércio da Franca 

Para as presas da Cadeia do Guanabara, ficar à toa, sem trabalhar, significava sentir o tempo passar mais devagar e não ter artigos de higiene e limpeza dentro da unidade por falta de dinheiro para comprar. Isso acontecia quando estavam abrigadas na cadeia feminina de Batatais. Hoje a realidade é bem diferente.

Há sete meses a cadeia da cidade recebe mulheres de Franca e da região e, ao contrário da época que a unidade recebia somente homens, as detentas pedem para trabalhar.

Elas fazem trabalhos manuais, ganham até R$ 500 e ainda encurtam a permanência atrás das grades. Para cada três dias trabalhados, ganham um dia na remição da pena quando forem julgadas. Pelos corredores e pátio, mais da metade (80) das 147 presas que estão lá atualmente tentam ocupar a cabeça com a costura de sapatos masculinos, enrolando cigarros de palha ou encapando as camas de alvenaria para que fiquem mais parecidas com seus quartos.

DFO, 25, é um exemplo. A jovem foi presa por tráfico de drogas e possui dois filhos. Acostumada a trabalhar com a costura de sapatos, ela pediu ao diretor da unidade para que sua prima pudesse levar sapatos para serem costurados por ela e por suas colegas. Hoje é responsável por três mil pares de sapatos que entram na cadeia a cada quinze dias e por 17 mulheres que trabalham com ela. Com a atividade ela ganha R$ 200 por quinzena. “Com o dinheiro eu compro produtos de higiene e limpeza e ainda mando algum para os meus filhos. É pouco, mas é o que consigo”. A detenta ainda encapa as camas feitas de concreto. Com cartolinas e papel colorido, ela cobra R$ 20 para dar uma nova cara às camas das colegas.

Presa por tráfico de entorpecentes em Orlândia, onde morava, MFS, 38, também não fica à toa na cadeia. Ela é uma das 32 mulheres que trabalham enrolando cigarros de palha. Com produção média de dois mil cigarros por dia, a presa consegue ganhar R$ 420 por mês. Natural do Piauí, a detenta não recebe a visita de parentes (pois todos moram no nordeste) e com o dinheiro compra mantimentos, roupas e materiais de limpeza e higiene, tudo sob encomenda. “Esse trabalho é uma boa oportunidade para nós que estamos aqui. Se não fosse isso, minha realidade aqui dentro seria outra”.

Além dos calçados e dos cigarros, há ainda outras atividades na cadeia desenvolvidas por grupos menores ou individualmente e que também geram renda para as presas. O fuxico é uma delas, de várias cores e tamanhos para enfeitar os cabelos. A atividade é desenvolvida por apenas uma mulher, cuja clientela está fora dos muros da unidade. Com a ajuda da filha, que a visita semanalmente e leva a matéria-prima, NAN se dedica ao ofício que aprendeu em uma casa de recuperação de Franca. A mulher de 48 anos, ainda sonha em mudar seu destino com a produção dos enfeites.

Há ainda mulheres que são manicures e cobram R$ 8 pelo serviço de pé e mão, as que fazem cartas quilométricas sob encomenda por R$ 20, algumas que fazem tapetes de crochê e salgados fritos para vender somente dentro da unidade. 

publicada pelo Jornal Comércio da Franca em 9 de abril de 2011)

DINHEIRO NO LIXÃO - Francano não separa lixo e joga fora R$ 1 mi por ano

Ana Luiza Silva
repórter do Jornal Comércio da Franca 
O município de Franca deixa de reciclar 22 toneladas de lixo todos os dias. O material que poderia gerar renda para pelo menos 52 famílias, beneficiar projetos sociais da Pastoral do Menor e ainda preservar o meio ambiente vai parar direto no aterro sanitário. O serviço diário de coleta seletiva da cidade recolhe apenas oito toneladas de papéis, vidros, plásticos e metais, o equivalente a 26,6% do que seria reaproveitável. A prefeitura culpa a população pelo desperdício e planeja reforçar a campanha de conscientização até 2012.

A conta é simples. A cidade produz cerca de 300 toneladas de lixo por dia. Desse total, a prefeitura estima que 30 toneladas sejam de material reciclável, que deveriam ser separadas pela população e encainhadas para a usina de reciclagem do município. Mas, de fato, os francanos separam apenas oito toneladas, ou seja, 22 toneladas vão parar no lixão.
O resultado, normalmente ruim, pode ser ainda pior este ano. Nos três primeiros meses de 2011, foram recolhidas 720 toneladas. O volume é 20% menor que no mesmo período do ano passado quando os funcionários da Colifran, empresa terceirizada pelo município para a realização do serviço desde 2002, retiraram 900 toneladas de recicláveis das ruas de Franca.

Para tentar reverter a situação, o secretário de Serviços e Meio Ambiente Ismar Tavares afirma que vai aumentar a distribuição na cidade de panfletos que explicam o serviço e pedem a participação da população. “Todo mês fazemos o arrastão da limpeza nos bairros e para divulgar a ação usamos panfletos que também informam sobre a coleta seletiva. Além disso, fazemos propagandas em rádios e visitas nas escolas públicas”, disse o secretário.

A prefeitura planeja também ampliar o serviço para todos os 300 bairros da cidade até 2012. Hoje a Colifran mantém cinco caminhões para o recolhimento de materiais recicláveis e 250 bairros são atendidos, de segunda a sábado, em horário comercial. “Mas não adianta nós colocarmos mais caminhões para a coleta seletiva e a população não colaborar. É preciso que cada casa, cada indivíduo saiba que a separação do lixo é uma questão de consciência ambiental”.

Além do volume reduzido, o lixo reciclável descartado pelos francanos também é mal separado. Das oito toneladas de lixo destinados à reciclagem, 27% são desprezados durante o processo e triagem do lixo na cooperativa que faz a separação, por chegarem misturados a lixo orgânico. São restos de comida, fraldas descartáveis, papel higiênico, animais mortos e até fezes. O que não serve na usina, é levado ao aterro sanitário para a decomposição.

A Cooperfran (Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Franca e Região), que é responsável pela usina, consegue levantar cerca de R$ 38 mil por mês com a venda dos reciclados. Seus clientes são empresários de Ribeirão Preto e da capital. 25% lucro alcançado pela usina - cerca de R$ 9,5 mil mensais - é destinado à Pastoral do Menor, que separa papelão em um espaço anexo. Se todo lixo reaproveitável que é descartado pelos francanos fosse reciclado, somente a Pastoral receberia, aproximadamente, R$ 35,6 mil.

IMPORTÂNCIA
Para o engenheiro da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Carlos Alberto Rulliano, a reciclagem é importante pois ajuda a ampliar a vida útil dos aterros sanitários e dispensa a criação de novos aterros.

O biólogo Breno Neves de Andrade ressalta que o lixo não separado corretamente pode causar impacto negativo ao meio ambiente como a extinção de espécies e a poluição do lençol freático. “Existem materiais que demoram para se decompor, como é o caso do plástico, que precisa de mais de cem anos para desaparecer”, disse Andrade.

Quando reaproveitado, o plástico pode utilizado para a confecção de produtos como móveis, bijuterias, banners, laços, luminárias, entre outros. Os metais - aço ou alumínio - são 100% recicláveis e quando retornam ao meio ambiente voltam na condição de matéria-prima com alto valor comercial. 
(publicada pelo Jornal Comércio da Franca em 16 de abril de 2011)

 
 

3 de abril de 2011

'Órfãos’ de filhos buscam superação para continuar


Ana Luiza Silva
repórter do Jornal Comércio da Franca 


Terapia, religião, apoio dos amigos e da família. Pais e mães que tiveram suas vidas abaladas bruscamente pela perda de seus filhos jovens em acidentes de trânsito procuram um caminho que os façam contornar o grande vazio que ficou em seus corações após o enterro dos filhos.
Em Franca, com o aumento dos acidentes envolvendo jovens, esse drama não para de crescer.


Na véspera do Carnaval, por exemplo, cinco jovens, todos com 19 anos, morreram de uma só vez, provocando comoção na cidade. O escriturário João Ponce, 58, pai de Carlos Eduardo, o Cadu, não se conforma com a perda do melhor amigo e diz que vai carregar para sempre a dor da perda. A mãe, Edilamar Ponce, 43, católica fervorosa, se apega a fé para aplacar a dor .
Cadu e os amigos Felipe Careta Rossi, Marcos Vinícius Caprioli, Rafael Naves Bedo, Ana Beatriz Bittar Gimenez seguiam para Ituiutaba (MG) para pular o Carnaval.


Edilamar tem sido o esteio da família. Com muita fé em Nossa Senhora, ela doou todas as roupas do filho. Restou um relógio, uma camiseta e a paixão da vida dele, o kimono. “Meu filho era desprendido de tudo. Doamos porque achamos que assim ele ficaria satisfeito. Com ou sem as coisas dele em casa, nós sempre vamos nos lembrar dele.”


Diferentemente da mulher, o pai não é religioso e só acredita em um Deus que está na natureza. Todos os domingos, João vai ao supermercado fazer compras, mas volta com as sacolas mais vazias, sem os produtos que Cadu adorava.


Após a partida do filho, a família Ponce diz não ficar sozinha em nenhum momento graças às visitas e ligações dos amigos. “Assim a alma ganhou um acalento e a dor começou a ser suportável”, disse o pai.


A família Cardoso viveu o mesmo drama. Na manhã de 27 de maio de 2010, a cartorária Maria Timóteo Martins Cardoso, 52, seguia para o trabalho quando ouviu no rádio que havia acontecido um acidente de moto com morte na rodovia Tancredo Neves, a mesma pela qual o filho passava todos os dias para ir trabalhar na Prefeitura de Claraval. Logo veio a confirmação que mais temia: a vítima era seu filho Gabriel Martins Cardoso, de 25 anos. Ela e o marido, o funcionário público Getúlio Cardoso, 58, se abraçaram, choraram e gritaram juntos pela perda do primogênito, que queria ser policial militar. Segundo eles, a religião foi a responsável por amenizar a dor da perda. O casal também doou todos os pertences de Gabriel, passou a fazer terapia e a frequentar grupos da Igreja Católica.


(publicada pelo Jornal Comércio da Franca em 3 de abril de 2011)


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