17 de abril de 2011

Atrás das grades, detentas trabalham em busca de liberdade

Ana Luiza Silva
repórter do Jornal Comércio da Franca 

Para as presas da Cadeia do Guanabara, ficar à toa, sem trabalhar, significava sentir o tempo passar mais devagar e não ter artigos de higiene e limpeza dentro da unidade por falta de dinheiro para comprar. Isso acontecia quando estavam abrigadas na cadeia feminina de Batatais. Hoje a realidade é bem diferente.

Há sete meses a cadeia da cidade recebe mulheres de Franca e da região e, ao contrário da época que a unidade recebia somente homens, as detentas pedem para trabalhar.

Elas fazem trabalhos manuais, ganham até R$ 500 e ainda encurtam a permanência atrás das grades. Para cada três dias trabalhados, ganham um dia na remição da pena quando forem julgadas. Pelos corredores e pátio, mais da metade (80) das 147 presas que estão lá atualmente tentam ocupar a cabeça com a costura de sapatos masculinos, enrolando cigarros de palha ou encapando as camas de alvenaria para que fiquem mais parecidas com seus quartos.

DFO, 25, é um exemplo. A jovem foi presa por tráfico de drogas e possui dois filhos. Acostumada a trabalhar com a costura de sapatos, ela pediu ao diretor da unidade para que sua prima pudesse levar sapatos para serem costurados por ela e por suas colegas. Hoje é responsável por três mil pares de sapatos que entram na cadeia a cada quinze dias e por 17 mulheres que trabalham com ela. Com a atividade ela ganha R$ 200 por quinzena. “Com o dinheiro eu compro produtos de higiene e limpeza e ainda mando algum para os meus filhos. É pouco, mas é o que consigo”. A detenta ainda encapa as camas feitas de concreto. Com cartolinas e papel colorido, ela cobra R$ 20 para dar uma nova cara às camas das colegas.

Presa por tráfico de entorpecentes em Orlândia, onde morava, MFS, 38, também não fica à toa na cadeia. Ela é uma das 32 mulheres que trabalham enrolando cigarros de palha. Com produção média de dois mil cigarros por dia, a presa consegue ganhar R$ 420 por mês. Natural do Piauí, a detenta não recebe a visita de parentes (pois todos moram no nordeste) e com o dinheiro compra mantimentos, roupas e materiais de limpeza e higiene, tudo sob encomenda. “Esse trabalho é uma boa oportunidade para nós que estamos aqui. Se não fosse isso, minha realidade aqui dentro seria outra”.

Além dos calçados e dos cigarros, há ainda outras atividades na cadeia desenvolvidas por grupos menores ou individualmente e que também geram renda para as presas. O fuxico é uma delas, de várias cores e tamanhos para enfeitar os cabelos. A atividade é desenvolvida por apenas uma mulher, cuja clientela está fora dos muros da unidade. Com a ajuda da filha, que a visita semanalmente e leva a matéria-prima, NAN se dedica ao ofício que aprendeu em uma casa de recuperação de Franca. A mulher de 48 anos, ainda sonha em mudar seu destino com a produção dos enfeites.

Há ainda mulheres que são manicures e cobram R$ 8 pelo serviço de pé e mão, as que fazem cartas quilométricas sob encomenda por R$ 20, algumas que fazem tapetes de crochê e salgados fritos para vender somente dentro da unidade. 

publicada pelo Jornal Comércio da Franca em 9 de abril de 2011)

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