Ir até a cena de um crime, ver sangue, muitas vezes
familiares chorando em volta: tudo isso faz parte da cobertura de um homicídio. Quero deixar claro: não gosto de cobrir esse tipo de pauta, mas se tiver que ir encaro numa boa.
Minha primeira pauta assim foi há um ano em Pedregulho
(SP). Um lavrador matou sua mulher porque na cidade falavam que ele era ‘chifrudo’.
O assassinato aconteceu na casa dos pais da jovem, que quando foi morta tinha
27 anos e era mãe de um garotinho de um ano e meio.
Na cozinha havia muito sangue. Quando não preciso ver, eu
prefiro nem olhar para evitar pesadelos à noite. (Sim quando vejo algo que me
impressiona eu tenho pesadelos horríveis). Mas pelo pouco que vi da cena do
crime, ela foi morta na cozinha da casa. Sangue pelas paredes, armários, pia,
geladeira e mantimentos.
Muitos vizinhos se aglomeraram em volta da casa, que foi
isolada pela Polícia Militar. Quando cheguei achei uma situação desconfortável,
mas depois fui me ambientando e fiquei ainda mais tranquila quando soube que o
suspeito tinha sido preso.
O pior de tudo foi entrevistar a mãe da garota morta. Que
tristeza, estava desolada. Fui com jeitinho e quase chorei ao ver as lágrimas
de uma mulher castigada pelos problemas, pelo trabalho e pela condição precária
de vida. E essa mesma vida já desgraçada havia lhe pregado mais uma peça.
Quando cheguei à redação respirei fundo e escrevi. Sem
nenhum problema. Mas quando cheguei em casa pensei em tudo que vi e ouvi
naquela pauta, fiquei um tanto ‘bolada’, mas depois passou com o tempo.
Há alguns meses soube que o ex-marido ‘chifrudo’ pegou quatro
anos de prisão e que a minha matéria havia sido citada no julgamento como um
relato verdadeiro de tudo que aconteceu no dia. Fiquei feliz pela lembrança,
feliz pela condenação, mas triste por me lembrar de que um menino de apenas três
anos não tinha mais mãe e o pai estava preso.
Realidade, cotidiano...isso não é normal, mas
infelizmente acontece muito mais do que nós imaginamos.