25 de março de 2011

Religiosos tentam converter presas na Cadeia do Jardim Guanabara

Ana Luiza Silva
repórter do Jornal Comércio da Franca


Faça chuva ou faça sol, todos os sábados três grupos de religiosos chegam às 13h50, na Cadeia do Guanabara, em Franca. Nas mãos, carregam bíblias, jornais institucionais, folhetos de cânticos e violão. Os materiais ajudarão os voluntários no trabalho de conversão das presas. O objetivo converter as dententas e fazer com que elas não voltem ao mundo do crime ao sair da prisão.

Participam da evangelização (encontros religiosos para apresentação da Bíblia e testemunhos de fé através de cantos e orações), dois membros da Assembléia de Deus, dois da Universal do Reino de Deus e cinco da Pastoral Carcerária, ligada à Igreja Católica. Trabalho semelhante era realizado antes na cidade de Batatais, de onde as presas vieram transferidas. Hoje, 147 presas ocupam as celas da cadeia pública de Franca, mas nem todas participam das reuniões.

O portão só é aberto quando os grupos já estão formados do lado de fora. Quem chega atrasado não entra. Com a autorização do diretor da cadeia, o delegado Eduardo Bonfim, a reportagem do Comércio passou duas horas na unidade e acompanhou de perto como é trabalho para conversão das detentas. Antes de seguirem para o pátio, os visitantes apresentam uma carteirinha de identificação, assinam um livro e informam a qual igreja pertencem. Bolsas, celulares e chaves não entram.

No pátio, encontramos as mulheres fazendo a unha, lavando roupas, cozinhando e aguardando a chegada dos grupos de oração. Os religiosos vão de cela em cela convidando-as a participar. Como todos os dias chegam novas “moradoras” e outras saem - encaminhadas a penitenciárias do Estado -, o total de participantes oscila a cada sábado. No último, obreiras da Igreja Universal se reuniram com 17 detentas em uma sala aberta conhecida na unidade como Capelinha. Membros da Pastoral Carcerária fizeram a evangelização com 35 presas no pátio mesmo. E representantes da Assembléia de Deus rezavam com mais 15 mulheres no último corredor da cadeia. Os encontros acontecem de forma simultânea e, por cerca de duas horas, é possível observar a entrega das participantes, o fervor das orações, o choro e os gritos por perdão.

A Pastoral Carcerária, liderada pelo padre Marco Antônio Garcia, começou a reunião com cantos e coreografias, seguidos da leitura e explicação da Bíblia. Para o padre, que trabalha em cadeias há duas décadas, esse tipo de evangelização tem o objetivo de dar um rumo à vida dessas pessoas. “Temos a noção exata que elas pecaram e que, para a Justiça dos homens, elas ainda devem pagar. Essa evangelização é para que tenham fé e acreditem que Deus existe, acreditem no amor, no perdão”, disse.

Após a última oração, a despedida é acompanhada da promessa do reencontro na semana seguinte. Na saída, com o violão nas costas e as mãos vazias - as Bíblias, folhetos e jornais ficaram com as presas -, os religiosos deixam a cadeia parecendo concentrados, pensativos. “A intenção é sempre melhorar nosso trabalho, para ajudar ainda mais aos que precisam”, disse padre Marco Antônio Garcia.

MUITAS HISTÓRIAS
Os crimes que levaram as mulheres ao Guanabara são variados, vão de assalto a extorsão. Mas, segundo a administração da unidade, a maioria está reclusa por envolvimento com drogas. Muitas carregam nomes de namorados, maridos e filhos tatuados pelo corpo.


Algumas rezam de longe, sem se misturarem aos grupos. Assim estava VAM, 30 anos, mãe de quatro filhos e presa por roubo à mão armada. Sentada em meio a lençóis e toalhas. Para ela, a presença dos religiosos é sempre um momento único dentro da cadeia. “Todo sábado é uma alegria, esse tipo de trabalho ajuda a gente de certa forma, pelo menos nos dá forças para mudar de vida”. A direção da cadeia, não permitiu que a reportagem detalhasse mais o passado das presas por motivo de segurança.

(publicada pelo Jornal Comércio da Franca em 17 de fevereiro de 2011)


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