Montadas em pequenos espaços, as sapatarias de Franca têm resistido ao
tempo. Na cidade estão instaladas cerca de 500 fábricas, são produzidos
anualmente em média 35 milhões de pares e são empregadas mais de 25 mil
pessoas. Apesar da grande oferta para adquirir novos calçados, os consertos se
mantêm. Os cômodos que abrigam as sapatarias estão abarrotados de serviços e os
clientes ainda preferem consertar a abandonar o sapato usado. Mas há os
clientes que esquecem suas mercadorias nas sapatarias causando prejuízos aos
proprietários. (Leia mais em texto nesta página).
A reportagem apurou que somente na região central existem em torno de 15
sapatarias, porém na Prefeitura estão cadastradas apenas duas sapatarias, mas
outros estabelecimentos podem estar registrados nas categorias: acabamento de
calçados e serviços de costura, que também engloba bancas de pesponto.
Uma das sapatarias mais antigas é a do Gonçalo. Hoje com 67 anos,
Gonçalo Mariano da Silva comemora trinta trabalhando em sua sapataria na Rua
Couto Magalhães. São oito horas por dia, de segunda a sábado. Já passou por
fábricas de calçados e coordenou equipes de funcionários. Cansado de ser
empregado, mas apaixonado por sapato, resolveu então trabalhar por conta.
“Minha sapataria ainda se mantém por dois motivos: por eu ter muitos clientes e
também por amar o que faço. Não troco trabalhar aqui por nenhum outro lugar.
Aqui é um comércio, tem dia que fatura e tem dia que não”. Gonçalo tira em
média R$ 1,5 mil por mês.
Cliente há mais de 15 anos de uma sapataria da cidade, o aposentado
Paulo Sérgio Tasso, 60, diz que prefere o conserto a ter que comprar um novo
sapato para substituir o estragado. Segundo ele, os serviços são bons e
compensa o conserto também pelo preço. “Acho que os serviços prestados pelas
sapatarias são muito importantes, porque às vezes é o bico de uma bota que fica
esfolado e é só pintar ou é um salto que fica gasto e basta trocar. Minha filha
mora em Belém do Pará e sempre que ela vem para Franca ela trás os sapatos da
família dela para consertar aqui. A gente acaba ficando com o sapato que a
gente gosta por mais tempo”, disse.
A estudante universitária Pâmela Cristina Silva Faria, 28, é outra
cliente assídua de sapatarias. Segundo ela, esse é um costume que vem de
família. “Minha mãe sempre leva sapatos para consertar, seja tênis ou
sandálias. Eu aprendi isso com ela e hoje, mesmo morando fora, continuo mandando
os sapatos para arrumar. Compensa por que o serviço é bom e o que poderia ser
jogado fora, tem conserto e serve por mais um tempo.”
Além da vasta clientela, da paixão que os proprietários têm em trabalhar
em suas sapatarias, há ainda outras curiosidades. O título das sapatarias, em
sua maioria, leva o nome de seus donos. Sapataria do Tonin, do Gonçalo, do
Luis, do Adelmo. Outra é a fé que eles têm. Em um altar, sempre à mostra,
imagens de santos abençoam o lugar. “Eu tenho fé e peço que Deus me de forças
para continuar, para ter clientes, para conseguir trabalhar por mais tempo”,
disse o sapateiro Adelmo Antônio da Silva, de 57 anos, e há 25 mantém sua
sapataria no centro da cidade.
Mercadorias
são ‘esquecidas’ em sapatarias
Nas seis sapatarias visitadas pela reportagem a reclamação
foi unânime: mercadorias esquecidas pelos clientes. Juntas elas somam quase mil
pares de sapatos que foram deixados nos locais. Segundo Luis Donizete Pereira,
45, dono de uma sapataria na Padre Anchieta, as pessoas levam o calçado para
consertar e depois não buscam. “Vez ou outra eu separo uns pares para doar
porque senão eu tenho que sair do cômodo para poder dar lugar aos sapatos
consertados.”
A sapataria de Gonçalo Mariano da Silva é outra que soma prejuízos com o
descaso dos clientes. Na tentativa de se desfazer das peças encalhadas no local
ele resolveu ligar para os clientes. No mês seguinte a conta chegou ao valor de
R$ 200. “Quando eu vi a conta fiquei assustado. Mas agora eu coloco muitos
sapatos para vender, senão o prejuízo é certo.”
Segundo os sapateiros entrevistados, 50% do pagamento do serviço são exigidos
antes do conserto. Essa é uma tentativa de pelo menos ganhar parte do valor
total do serviço prestado aos clientes, que ainda segundo os sapateiros, fazem
questão de ‘esquecer’ as mercadorias.
Imagem: Google Imagens
Já utilizei do serviço de sapataria em Franca e valeu a pena. O sapato estava encostado e agora voltou para a ativa.
ResponderExcluirParabéns pela matéria que reacende na população a lembrança das sapatarias na terra do calçado.
Felipe
Obrigada Felipe.
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